Orquestra Filarmônica de Viena

Wiener Philharmoniker
   
Fundação: 28 de março de 1842
Sede: Musikverein, Viena, Áustria

A história da Filarmônica de Viena se confunde com a história da formação das orquestras regulares para concertos sinfônicos. Até a década de 1840 existiam em Viena — a capital da música por excelência — as orquestras dos teatros, sendo a principal delas a Orquestra da Ópera Imperial (hoje Ópera do Estado), voltadas à programação de ópera da cidade; quem quisesse apresentar música sinfônica tinha de contratar esses conjuntos a altos preços — como o fez Mozart em 1785 para um série de 6 programas com suas Sinfonias e Concertos para piano — ou arrebanhar uma orquestra meio profissional, meio amadora (como foram nas estréias de várias das Sinfonias de Beethoven ou Schubert). Outra alternativa era inserir Sinfonias e Concertos nos intervalos dos balés e óperas, como fazia o regente Franz Lachner com as Sinfonias de Beethoven na década de 1830.

Foi o compositor e regente Otto Nikolai que teve a idéia de organizar um "Grande Concerto" em 1842 com uma orquestra constituída dos melhores músicos da Orquestra do Teatro de Ópera da Corte. Essa nova orquestra, a princípio chamada de "Academia Filarmônica", daria uma série de música unicamente instrumental. Estavam lançadas as bases para a formação da orquestra como ela se constitui até hoje: somente são admitidos músicos oriundos da Orquestra da Ópera; o conjunto é autônomo e seus membros decidem em colegiado a organização, a parte financeira e os rumos artísticos da orquestra.

Após um período de dificuldades, a partir de 1860 a orquestra viveu uma Era de Ouro sob a batuta de Hans Richter, o lendário regente que estreou o Anel de Wagner em Bayreuth. Richter elevou o nível artístico do conjunto e trouxe alguns convidados para reger: empunharam a batuta Liszt, Verdi, Wagner, Brahms e Bruckner! Em 1870 a orquestra ganha o Musikverein como residência. Ali a Filarmônica estreou algumas das obras mais importantes do repertório, como o Concerto para violino de Tchaikowsky, as Sinfonias ns. 4 e 8 de Bruckner e as de ns. 2 e 3 de Brahms. Em 1877 a Filarmônica faz seu primeiro concerto fora de Viena, no Festival de Salzburg.

A passagem do século vai testemunhar outro período riquíssimo, dessa vez sob a direção do compositor e regente Gustav Mahler, que dirigiu o conjunto de 1898 a 1901 (ao mesmo tempo, ele dirigiu a Ópera de 1897 a 1907). Foi com Mahler que a orquestra fez sua primeira apresentação internacional, na Exposição Mundial de Paris em 1900. Até 1933 a orquestra teve 4 diretores: Joseph Hellmesberger, Felix Weingartner, Wilhelm Furtwängler e Clemens Krauss. O compositor Richard Strauss era freqüentemente convidado a reger o conjunto e veio ao Brasil com a orquestra algumas vezes na década de 1920.

A partir de 1933 a orquestra não terá mais o cargo de diretor artístico ou regente principal. Os maestros são convidados por pequenas temporadas e por certo número de concertos. Isso não impediu que certos nomes estivessem mais freqüentes em determinados períodos, como foi com Bruno Walter, Furtwängler, Knappertsbusch, Klemperer e outros nas décadas de 40, 50 e 60, com Karajan, Karl Böhm, Claudio Abbado, Bernstein nos anos 60, 70 e 80 e tantos outros nomes, não havendo regente importante que não passasse ou passe por seu prestigioso pódio.

A Segunda Guerra e a anexação da Áustria ao Nazismo criaram uma mancha na história da orquestra, que foi salva da dissolução por Wilhelm Furtwängler (a estrutura oficial queria manter apenas a Filarmônica de Berlim como grande orquestra do Reich). Todos os músicos judeus da Ópera e da Filarmônica foram demitidos e deportados, 5 de seus músicos morreram em campos de concentração e outros 2 perseguidos e mortos nas ruas de Viena; 9 foram exilados. Os 11 meio-judeus ou que eram casados com judias foram mantidos na orquestra sob licença especial mas viviam sob constante ameaça e total desconforto com os colegas — em 1942, 60 dos 123 músicos da orquestra eram membros do Partido Nazista.

Hoje a orquestra é reconhecida como uma das 3 melhores do mundo (junto com a de Berlim e a do Concertgebouw de Amsterdam), aparecendo em muitas listas especializadas como "a" melhor do mundo. Seu som é refinadíssimo, e seus músicos podem continuar a manter a política de não nomear um diretor permanente talvez graças à intensa atividade individual deles, que tocam na Ópera do Estado sob várias batutas e exercitando continuamente. O que chama a atenção é a beleza e a riqueza de detalhes de sua sonoridade. A Filarmônica de Berlim talvez seja mais forte e masculina, a Concertgebouw talvez mais precisa e perfeita, a Sinfônica de Londres talvez traga mais colorido, mas ela é  a mais feminina das orquestras — e a única que ainda é quase totalmente composta por homens, tendo apenas 6 mulheres, a primeira admitida em 2008 — cujo impacto é indescritível, uma experiência celestial.

© RAFAEL FONSECA