Claudio Abbado

Claudio Abbado

Milão, 26 de junho de 1933 — Bolonha, 20 de janeiro de 2014

Filho de um professor de violino e de uma pianista, Abbado decidiu que seria regente ao ouvir, ainda menino, "Images" de Debussy. No final dos anos-1940 freqüentou ensaios de dois monstros sagrados da regência, o italiano Arturo Toscanini e o alemão Wilhelm Furtwängler, o que o influenciou profundamente, levando-o a ter no pódio uma postura contida e amigável aos músicos, tornando-o avesso aos modos ditatoriais que imperavam naqueles tempos. Até 1955 esteve sob os cuidados do pai no Conservatório "Verdi" de Milão, depois mudando-se para Viena para se aperfeiçoar com Hans Swarowski. Em 1958, em Tanglewood (Estados Unidos), ganhou o primeiro lugar no Concurso  "Koussevitsky" de regência. Em 1963 venceria o Concurso "Mitropoulos" que o permitiria trabalhar na Filarmônica de Nova York por 5 meses.

Sua estréia no pódio foi em Trieste em 1958, regendo "O Amor das Três Laranjas" de Prokofiev; em 1960 regeria pela primeira vez no templo máximo da ópera, o Teatro Scala de Milão. Em 1968, com apenas 35 anos, é apontado como diretor do Scala, cargo que manteve até 1986. 

A partir da década de 1980 passa a destacar-se também no campo da música sinfônica. Foi regente principal da Sinfônica de Londres de 1979 a 1986 e ao mesmo tempo, de 1982 a 1985 foi o principal regente convidado da Sinfônica de Chicago. Nomeado diretor da Ópera de Viena em 1986, estreitou as relações com a Filarmônica desta cidade (cujos músicos são em sua maioria provenientes das estantes da Ópera), conjunto que ele havia regido pela primeira vez em 1965 em Salzburg.

Seu ápice como regente de orquestra foi a eleição em 1988 como diretor da Filarmônica de Berlim, o sétimo regente à frente do conjunto desde a fundação, 100 anos antes. Famosa pelo altíssimo nível de excelência, a Berliner teve seu som modificado aos poucos por Abbado, que quis retirar um pouco do som opulento, algo militar e imperial imposto por seu antecessor, o lendário Herbert von Karajan, conferindo mais transparência, fluidez e leveza ao modo de tocar da orquestra. Trouxe ao repertório dos berlinenses muito da música moderna que sempre fora sua paixão. Dez anos depois, em 1999, Abbado surpreende a todo o mundo anunciando sua saída da orquestra em 2002, criando um surpreendente rebuliço relativo a um posto que havia sido vitalício a quase todos os seus antecessores.

Em 2000 é diagnosticado um câncer de estômago super severo, que impôs uma redução drástica em suas atividades. Em 2003, já recuperado, ele inicia o processo de reformulação da Orquestra do Festival de Lucerna, criada em 1938 por Toscanini mas dissolvida em 1993. Sempre atento aos jovens músicos, Abbado já havia criado a Orquestra Jovem Mahler em 1986 e ajudado a criar a Orquestra Jovem da Comunidade Européia, que deu origem, em 1981, à Orquestra de Câmara da Europa. Pois foi a Orquestra de Câmara da Europa a base para a criação do time de excelência que até hoje constitui a Orquestra do Festival de Lucerna, à qual juntam-se membros das Filarmônicas de Berlim e Viena, da Sinfônica de Londres, e músicos de carreira solista — como a clarinetista Sabine Meyer, os irmãos Capuçon (violino e violoncelo), e os integrantes do Quarteto Hagen — que querem se exercitar na prática orquestral.

Seu mais recente feito é a Orquestra Mozart, formada em Bolonha em 2004, cujas bases se parecem com a orquestra de Lucerna, com Abbado recrutando músicos amigos — como o violinista Giuliano Carmignola — para atuar no conjunto. Estruturada como nos tempos de Mozart, com um número mais modesto de integrantes (daí o nome), com ela Abbado tem experimentado um repertório pré-Romântico, como por exemplo os Concertos de Brandemburgo de Bach, recentemente lançados em áudio e vídeo.

Dono de um estilo que prioriza o fluxo melódico, a claridade do texto musical e a espontaneidade, Abbado é mestre em ópera italiana, Mozart e as do século XX. Na música sinfônica seu talento floresce em obras de Nono, Ravel, Schumann, Mendelssohn, Schubert e a maior parte dos compositores russos. Seu estilo para Beethoven e Brahms talvez deixe carentes aqueles que gostam da mão pesada germânica, mas traz à tona o "cantabile" contido nas obras destes compositores. Em Mahler se pode conferir com ênfase muitos dos efeitos criados pelo compositor ainda que ele ele tente evitar as possíveis vulgaridades — em Mahler às vezes necessárias — e os abruptos deslocamentos de som. O registro feito em 1992 do Concerto de Brahms tendo como solista ao violino a russa Viktoria Mullova — sua amante à época, mãe de uma de suas filhas — é uma das melhores versões de todos os tempos.

Antes de morrer em 2014, Abbado foi nomeado Senador vitalício pelo Presidente italiano Giorgio Napolitano, em 30 de agosto de 2013, cujo salário decidiu encaminhar à Escola de Música da pequena cidade de Fiesole.

© RAFAEL FONSECA